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segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Páscoa

Quando o pedido para o livramento de Israel fora pela primeira vez apresentado ao rei do Egito, fizera-se a advertência das mais terríveis pragas. Foi ordenado a Moisés dizer a Faraó: “Assim diz o Senhor: Israel é Meu filho, Meu primogênito. E Eu te tenho dito: Deixa ir o Meu filho, para que Me sirva; mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que Eu matarei a teu filho, o teu primogênito.” Êxo. 4:22 e 23. Posto que desprezados pelos egípcios, os israelitas haviam sido honrados por Deus, tendo sido separados para serem os depositários de Sua lei. Nas bênçãos e privilégios especiais a eles conferidos, tinham preeminência entre as nações, como tinha o filho primogênito entre seus irmãos.
O juízo de que o Egito fora em primeiro lugar advertido, deveria ser o último a ser mandado. Deus é longânimo e cheio de misericórdia. Tem terno cuidado pelos seres formados à Sua imagem. Se a perda das suas colheitas, rebanhos e gado, houvesse levado o Egito ao arrependimento, os filhos não teriam sido atingidos; mas a nação obstinadamente resistiu à ordem divina, e agora o golpe final estava prestes a ser desferido.
A Moisés tinha sido proibido, sob pena de morte, aparecer outra vez à presença de Faraó; mas uma última mensagem da parte de Deus deveria ser proferida ao rebelde rei, e novamente Moisés veio perante ele, com o terrível anúncio: “Assim o Senhor tem dito: À meia-noite Eu sairei pelo meio do Egito; e todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta com ele sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da mó, e todo o primogênito dos animais. E haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve semelhante e nunca haverá; mas contra todos os filhos de Israel nem ainda um cão moverá a sua língua, desde os homens até aos animais, para que saibais que o Senhor fez diferença entre os egípcios e os israelitas. Então todos estes teus servos descerão a mim, e se inclinarão diante de mim, dizendo: Sai tu, e todo o povo que te segue as pisadas; e depois eu sairei.” Êxo. 11:4-8.
Antes da execução desta sentença, o Senhor por meio de Moisés deu instruções aos filhos de Israel relativas à partida do Egito, e especialmente para a sua preservação no juízo por vir. Cada família, sozinha ou ligada com outras, deveria matar um cordeiro ou cabrito “sem mácula”, e com um molho de hissopo espargir seu sangue “em ambas as ombreiras, e na verga da porta” da casa, para que o anjo destruidor, vindo à meia-noite, não entrasse naquela habitação. Deviam comer a carne, assada, com pão asmo e ervas amargosas, à noite, conforme disse Moisés, com “os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do Senhor”. Êxo. 12:1-28.
O Senhor declarou: “Passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos. … E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo Eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando Eu ferir a terra do Egito.”
Em comemoração a este grande livramento, uma festa devia ser observada anualmente pelo povo de Israel, em todas as gerações futuras. “Este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo.” Ao observarem esta festa nos anos futuros, deviam repetir aos filhos a história deste grande livramento, conforme lhes ordenou Moisés: “Direis: Este é o sacrifício da Páscoa do Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas.”
Ademais, os primogênitos tanto de homens como de animais deviam ser do Senhor, podendo ser reavidos apenas por meio de resgate, em reconhecimento de que, quando os primogênitos do Egito pereceram, os de Israel, se bem que graciosamente preservados, estiveram, com justiça, expostos à mesma sorte se não fora o sacrifício expiatório. “Todo o primogênito Meu é”, declarou o Senhor; “desde o dia em que feri a todo o primogênito na
terra do Egito, santifiquei para Mim todo o primogênito em Israel, desde o homem até ao animal: Meus serão.” Núm. 3:13. Depois da instituição do culto do tabernáculo, o Senhor escolheu para Si a tribo de Levi para a obra do santuário, em lugar dos primogênitos do povo. “Eles, do meio dos filhos de Israel, Me são dados”, disse Ele. “Em lugar… do primogênito de cada um dos filhos de Israel, para Mim os tenho tomado.” Núm. 8:16. Exigia-se ainda, entretanto, de todo o povo, em reconhecimento da misericórdia de Deus, pagar certo valor pelo resgate do filho primogênito. Núm. 18:15 e 16.
A páscoa devia ser tanto comemorativa como típica, apontando não somente para o livramento do Egito, mas, no futuro, para o maior livramento que Cristo cumpriria libertando Seu povo do cativeiro do pecado. O cordeiro sacrifical representa o “Cordeiro de Deus”, em quem se acha nossa única esperança de salvação. Diz o apóstolo: “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” I Cor. 5:7. Não bastava que o cordeiro pascal fosse morto, seu sangue devia ser aspergido nas ombreiras; assim os méritos do sangue de Cristo devem ser aplicados à alma. Devemos crer que Ele morreu não somente pelo mundo, mas que morreu por nós individualmente. Devemos tomar para o nosso proveito a virtude do sacrifício expiatório.
O hissopo empregado na aspersão do sangue era símbolo da purificação, assim sendo usado na purificação da lepra e dos que se achavam contaminados pelo contato com cadáveres. Na oração do salmista vê-se também a sua significação: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.” Sal. 51:7.
O cordeiro devia ser preparado em seu todo, não lhe sendo quebrado nenhum osso; assim, osso algum seria quebrado do Cordeiro de Deus, que por nós devia morrer. Êxo. 12:46; João 19:36. Assim também representava-se a inteireza do sacrifício de Cristo.
A carne devia ser comida. Não basta mesmo que creiamos em Cristo para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra. Disse Cristo: “Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna.” E para explicar o que queria dizer, ajuntou: “As palavras que Eu vos disse são espírito e vida.” João 6:53, 54 e 63.
Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração. Diz João: “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade.” João 1:14. Os seguidores de Cristo devem ser participantes de Sua experiência. Devem receber e assimilar a Palavra de Deus de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder de Cristo devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra de Cristo devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos.
O cordeiro devia ser comido com ervas amargosas, indicando isto a amargura do cativeiro egípcio. Assim, quando nos alimentamos de Cristo, deve ser com contrição de coração, por causa de nossos pecados. O uso dos pães asmos era também significativo. Era expressamente estipulado na lei da Páscoa, e de maneira igualmente estrita observado pelos judeus, em seu costume, que fermento algum se encontrasse em suas casas durante a festa. De modo semelhante, o fermento do pecado devia ser afastado de todos os que recebessem vida e nutrição de Cristo. Assim Paulo escreve à igreja dos coríntios: “Alimpai-vos pois do fermento velho, para que sejais uma nova massa. … Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade.” I Cor. 5:7 e 8.
Antes de obterem liberdade, os escravos deviam mostrar fé no grande livramento prestes a realizar-se. O sinal de sangue devia ser posto em suas casas, e deviam, com as famílias, separar-se dos egípcios e reunir-se dentro de suas próprias habitações. Houvessem os israelitas desrespeitado em qualquer particular as instruções a eles dadas, houvessem negligenciado separar seus filhos dos egípcios, houvessem morto o cordeiro mas deixado de aspergir o sangue nas ombreiras, ou tivesse alguém saído de casa, e não teriam estado livres de perigo. Poderiam honestamente ter crido haver feito tudo quanto era necessário, mas não os teria salvo a sua sinceridade. Todos os que deixassem de atender às instruções do Senhor, perderiam o primogênito pela mão do destruidor.
Pela obediência, o povo devia dar prova de fé. Assim, todos os que esperam ser salvos pelos méritos do sangue de Cristo, devem compenetrar-se de que eles próprios têm algo a fazer para conseguir a salvação. Conquanto seja apenas Cristo que nos pode remir da pena da transgressão, devemos desviar-nos do pecado para a obediência. O homem deve ser salvo pela fé, e não pelas obras; contudo, a fé deve mostrar-se pelas obras. Deus deu Seu Filho para morrer como propiciação pelo pecado, Ele manifestou a luz da verdade, o caminho da vida, Ele concedeu oportunidades, ordenanças e privilégios; e agora o homem deve cooperar com esses instrumentos de salvação; deve apreciar e usar os auxílios que Deus proveu – crer e obedecer a todas as reivindicações divinas.
Quando Moisés relatou a Israel as providências tomadas por Deus para o seu livramento, “o povo inclinou-se e adorou”. Êxo. 12:27. A alegre esperança de liberdade, o tremendo conhecimento de juízo iminente sobre os opressores, os cuidados e afazeres de que dependia a sua rápida partida, tudo naquela ocasião foi absorvido pela gratidão para com seu Libertador, cheio de graça. Muitos dos egípcios foram levados a reconhecer o Deus dos hebreus como o único verdadeiro Deus, e pediram agora que se lhes permitisse encontrar abrigo nos lares de Israel, quando o anjo destruidor passasse pela terra. Foram alegremente recebidos, e comprometeram-se dali em diante a servir ao Deus de Jacó, e saírem do Egito com Seu povo.
Os israelitas obedeceram às instruções que Deus dera. Rápida e secretamente fizeram os preparativos para a partida. Suas famílias reuniram-se, o cordeiro pascal foi morto, a carne foi assada ao fogo, e preparados os pães asmos e as ervas amargosas. O pai e sacerdote da casa aspergiu o sangue nas ombreiras, e reuniu-se à família dentro de casa. Às pressas e em silêncio comeu-se o cordeiro pascal. Com temor respeitoso, o povo orava e vigiava, estando o coração do primogênito, desde o homem forte até a criancinha, a palpitar de um terror indefinível. Pais e mães cingiam nos braços seus amados primogênitos, ao pensarem no golpe terrível que deveria ser desferido aquela noite. Mas nenhuma habitação de Israel foi visitada pelo anjo distribuidor da morte. O sinal de sangue – sinal de proteção de um Salvador – encontrava-se em suas portas, e o destruidor não entrou.
À meia-noite “havia grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um morto”. Todo primogênito na terra, “desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere e todos os primogênitos dos animais” (Êxo. 12:29-33), haviam sido feridos pelo destruidor. Por todo o vasto reino do Egito, o orgulho de cada casa fora derribado. Os gritos e prantos dos que lamentavam enchiam o ar. Rei e cortesãos, com rosto lívido e membros a tremerem, ficaram estarrecidos ante o horror que a todos dominava. Faraó lembrou-se de como certa vez exclamara: “Quem é o Senhor, cuja voz Eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel.” Agora, estando aquele seu orgulho, que afrontava aos Céus, humilhado até o pó, “chamou a Moisés e Arão, de noite, e disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; e ide, servi ao Senhor, como tendes dito. Levai convosco vossas ovelhas e vossas vacas, como tendes dito; e ide, e abençoai-me também a mim”. Os conselheiros do rei igualmente, e o povo, rogavam aos israelitas que partissem, “apressando-se para lançá-los da terra; porque diziam: Todos seremos mortos”.
Fonte: Patriarcas e Profetas, cap III – pág. 273 a 280 – Ellen G. White

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